
Mas foram igualmente captadas imagens de agentes da autoridade confiscando dois outros sacos, desta vez verdes, usados nos hospitais americanos para depósito exclusivo de material tóxico. Como é o caso das seringas e ampolas.
Outra indicação perturbante: junto da cama havia sido encontrada uma embalagem de lidocaína. Qualquer Miss Marple seria capaz de concluir que a lidocaína tinha sido aplicada para alívio de uma qualquer dor - por exemplo, a dor de uma picada de agulha que tentava encontrar um vaso sanguíneo magrinho. Na injecção intravenosa de propofol a dor é sempre imensa na área cutânea espetada pela seringa.

Lee diz que, nos últimos dias de vida, Jackson gritava com dores e queixava-se de que metade do corpo estava a ferver e a outra metade um gelo. Queria Diprivan, disse ela. O nutricionista Lou Ferrigno, que auxiliava o cantor numa fase de ensaios extenuantes, disse que Jackson queria manter-se saudável mas que tinha uma enorme necessidade de dormir. Como se ansiasse ser deixado, finalmente, em paz.
O propofol é uma substância delicada. Dos estagiários hospitalares que se tornaram dependentes, 40% morreram de overdose. Há casos de médicos que passaram a pescar embalagens nos caixotes do lixo da secção de cirurgia só para poderem aproveitar as últimas gotas. Um bocadinho coloca uma pessoa a dormir, mas um nadinha mais provoca facilmente uma paragem total do relógio coronário.
É usado na veterinária, nas salas de operação, e nunca, mas nunca, está disponível ao público. Controladíssima, é uma substância capaz de parar o coração se for tomada em excesso. Branca, brilhante, parece-se com leite.
Os anestesistas gostam de brincar com o poder daquela fusão química. Referem-se ao propofol com a expressão Milk of Amnesia. A evasão corpórea é total, como todos aqueles que já foram operados sabem. Não se trata de apenas estancar a dor, seja ela física ou existencial. A remissão para uma vida paralela é instantânea. O cérebro não fica apenas adormecido. Fica suspenso e vai viver outra vida melhor.
Curiosamente, num estudo publicado recentemente sobre o uso daquela substância entre a classe anestesista, os números apontaram numa direcção interessante. A maioria dos dependentes, sobretudo no escalão feminino, tinha sofrido traumas quando criança, por vezes violações, por vezes outros maus tratos físicos de natureza sexual. Para estes, o propofol vinha mesmo a calhar: tal como quando usado legalmente para anestesiar um paciente na sala de operações, o indivíduo necessitado injectava-se e ficava imediatamente inconsciente. Durante uns momentos era livre de flutuar para alem daquele corpo.
Omar S. Manejwala, médico que dirige o William J. Farley Center na Virgínia, um centro de recuperação e reabilitação que dá atenção especial aos casos de abuso de substâncias entre o pessoal médico, disse: "Um dos traços comuns das desordens psicológicas resultantes de um grande trauma é a hiperactividade maníaca. Há um esforço contínuo para bloquear mentalmente o que se passou".
De cura para as insónias, o fármaco evolui para cura de tudo o resto. Facilmente se torna indispensável. Manejwala reiterou a ligação entre um facto e outro. "Nunca vi uma ligação tão forte entre um medicamento e a possível incidência de trauma, sobretudo trauma de índole sexual. É realmente espantoso".

Uma luva, um chapéu e uns óculos, sobre um banco colocado num palco (na foto, ao lado direito), representam a figura de Michael Jackson durante um tributo ao artista realizado ontem no Apollo, conhecida sala de espectáculos no bairro de Harlem, em Nova Iorque.
1 comentário:
Michael, I love you.
You are my life.
Now, I´m alone and i´ll be stay with you.
I´m going inject propofol now.
Mike, my life.
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